Humberto Góes
O dia de hoje foi marcado pela fala do professor José Paulo Neto, que se dedica ao estudo do pensamento de Marx, e pela realização do primeiro dia dos Espaços de Discussão com apresentação e debate de trabalhos científicos.
Para a conferência do dia, compuseram a mesa Tayse Palitot, que falou das
dificuldades da pesquisa para o estudante e para a estudante de graduação e da
necessidade de instrumentalização da investigação científica com vistas à
qualificação da produção teórica, além da importância da composição da seção
estudantil para esse propósito; Osvaldo Yamamoto, que apresentou o
professor José Paulo Neto; e, Daniel Valença, que presidiu os trabalhos da
manhã.
Com o propósito de indicar os elementos metodológicos
a partir do pensamento de Karl Marx, José Paulo Neto traçou um panorama dos
percursos empreendidos pelo filósofo alemão na construção teórica que vai
esboçando na medida mesma de suas experiências político-militantes. Entre
categorias teóricas e críticas à realidade atual da pesquisa, José Paulo Neto
tece críticas à pesquisa e à universidade tal qual estão dispostas na
atualidade enquanto indica caminhos possíveis e obstáculos à construção de
conhecimentos de fato emancipadores ou, como disse o professor, de
conhecimentos que sejam social e academicamente relevantes.

Para José Paulo Neto, “o centro do conhecimento não
é o sujeito de pesquisa, é o objeto pesquisado. O sujeito não tem que pôr nada
no objeto, tem que extrair do objeto as contradições que o movimentam”. Isso,
segundo o professor, requer um sujeito extremamente ativo, produtor, rico
porque capaz de apreender a riqueza do objeto. O conhecimento científico
rigoroso demanda criatividade e imaginação. O sujeito não é um espelho passivo.
Em meio ao que define como elementos do método e da
história de construção do método marxiano, José Paulo Neto analisa a
universidade e o modo como ela se estrutura na sociedade, hoje condicionada
pelo produtivismo acadêmico e pelas exigências do que denominou de “Fordismo
Intelectual imposto pelas agências financiadoras”. Estas, para o professor, não
querem mestres e doutores que pensem muito, mas que sejam rápidos e que não
fiquem muito tempo na universidade. Esta mesma perspectiva condiciona o que se
tem como relevância social dos conhecimentos. A universidade se mantém
desvinculada da vida social, mais ainda dos anseios da classe trabalhadora,
porque está vinculada ao grande capital. “Sem a politização para baixo, porque
para cima está lotada, não haverá pesquisa na universidade brasileira”, afirma
por fim José Paulo Neto.
No período da tarde, os participantes e as
participantes do III Seminário do IPDMS dedicaram-se a Espaços de Discussão que
tiveram como centro temáticas intimamente ligadas ao propósito teórico do
Instituto de Pesquisa, Direitos e Movimentos Sociais. É o objetivo desses
espaços promover a reflexão crítica ao conhecimento jurídico que dá suporte às
relações de opressão e exploração humanas e incentivar a produção de
conhecimentos emancipadores, partindo-se de métodos que facilitem o diálogo de
saberes, bem assim, construções teóricas com os movimentos sociais, povos e comunidades tradicionais e outros grupos vulneráveis à exploração
e à violação de seus direitos na sociedade.